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Rafael Botelho | Aproveitar ao máximo cada momento
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Jovem revelação e talento emergente nos Açores, Rafael Botelho prepara-se para dar o salto para a categoria principal dos ralis, para já a nível regional mas sempre com o Campeonato de Portugal de Ralis no horizonte.

RaliFórum - Como o RaliFórum faz 10 anos de existência a primeira questão prende-se exatamente com esse período temporal, como avalia a sua carreira nos últimos 10 anos, que recordações, ensinamentos e balanço faz deste período de tempo?
Rafael Botelho -
O desporto motorizado preenche grande parte da minha vida e estou ligado desde que me lembro a estas andanças. Comecei a andar de mota com 3 anos de idade tendo tido uma carreira que durou 12 anos, entre competições a nível regional e nacional no motocross. É muito normal haver uma relação de “complementaridade” entre as motas e os carros e com o passar do tempo fui-me apercebendo que a minha verdadeira paixão eram os carros e, acima de tudo, os ralis. O meu primeiro rali foi o Sata Rallye Açores 2013, com um Citroen Saxo, pouco tempo depois de ter tirado a carta de condução e desde de então tenho crescido e evoluído nesta modalidade de que tanto gosto. Embora ainda não tenha os mesmos anos de carreira do que o vosso reconhecido e acarinhado fórum, durante este tempo que tenho estado no desporto automóvel tenho tido boas recordações, retirado ensinamentos válidos e, mesmo sendo o mais jovem piloto dos Açores e um dos mais novos de Portugal, já consigo fazer um balanço positivo destes anos de ralis. A nível de recordações é impossível esquecer o meu primeiro rali porque foi o cumprir de um sonho de criança e correr nos ralis dos Açores sendo um piloto da terra é uma sensação indescritível. Fomos, com as nossas limitações e km após km, aprendendo e acabamos por ser os 3ºs melhores Açorianos, num pódio com Ricardo Moura e Luís Rego Jr. Para além disso, guardo com especial carinho o primeiro título absoluto dos Açores de duas rodas motrizes em 2016, para além de não me esquecer de outros excelentes resultados como do Azores Rallye de 2018 em que andamos entre os melhores do ERC e vencemos a nossa categoria a nível internacional e tantos outros ralis regionais com óptimos resultados. Não posso deixar de referir que em outubro de 2020 fiz a minha estreia no continente, no que a ralis diz respeito, em provas do CPR e foi, também, o cumprir de um sonho e de um objectivo. Estar inserido na The Racing Factory, equipa onde corre o campeão nacional Armindo Araújo com quem tenho aprendido muito é igualmente motivo de orgulho e de felicidade. No que toca a ensinamentos sou sempre muito frio e sinto que cada PEC é uma aprendizagem, mas acima de tudo, sinto que tenho crescido sendo, nos dias de hoje, um piloto mais constante ao longo de todo o rali, mais intenso e sobretudo tenho aprendido a regular a relação entre a ambição, objectivos e adrenalina, que por vezes não é fácil, mas que promove a regularidade. O balanço destes anos é extremamente positivo porque quem me acompanha sabe que tem sido um crescimento a pulso. A minha família não tem posses, não tem passado nenhum ligado à competição e aos 26 anos poder ter um Skoda Fabia R5 e poder começar a lutar por objectivos maiores enche-me de orgulho e motivação porque têm sido anos de muito sacrifico, exigência e rigor embebidos num espirito, pesar de amador com muito profissionalismo e na esperança de alcançar feitos maiores, só possível com o apoio incondicional de todos os meus patrocinadores e amigos.

RaliFórum - O que mudou em termos de ralis nos últimos 10 anos, tanto para melhor como para pior?
Rafael Botelho -
As minhas análises estão intrinsecamente ligadas à minha idade e nesse sentido verifico que, infelizmente, nos últimos anos não têm aparecido muitos jovens valores. É com agrado que registo que têm sugerido iniciativas nesse sentido e espero que dentro de um par de anos possamos ter vários pilotos a lutar por vários objectivos. Sou um sortudo por poder fazer ralis que é aquilo que mais gosto e sou um adepto fervoroso, por isso tenho também essa visão e a intenção de algum modo de colaborar para a sustentabilidade e longevidade dos ralis. Creio que o marketing digital tem permitido a muitas equipas e pilotos terem mais exposição e com isso porventura, mais verbas porque é uma ferramenta que trabalhada positivamente alcança frutos concretos. Obviamente que o rali é para ver e sentir na estrada, mas hoje em dia o digital é um complemento a isso e até as competições internacionais têm ido por esse caminho. Acrescento o ponto da segurança quer para quem participa, quer para quem vê, que tem tido evoluções significativas com alicerces bem ponderados e permite termos competições espectaculares mas seguras, apesar do incremento de custos que isso representa.

RaliFórum - O que diria a si próprio se o Rafael de 2021 pudesse dar um conselho ao Rafael de 2011?
Rafael Botelho -
Não passaram muitos anos, mas acho, sobretudo, que devia e devo aproveitar ao máximo cada momento, seja num teste, em prova ou no pódio. Acho que por vezes não aproveitei, como devia, muito desses momentos porque já estava com o pensamento no próximo momento, prova ou tarefa. Sinto que hoje em dia consigo tirar maior partido de cada momento e isso, obviamente, que fortalece a paixão pelos ralis e incrementa o prazer de conduzir um carro de corridas. Para além disso, sinto também que uma postura mais solta, em que na mesma se enquadrem todos os compromissos, objectivos e exigências, permite analisar de forma mais concerta os meus desempenhos e com isso trabalhar nas áreas chaves para evoluir.

RaliFórum - Focando agora na época que findou, altamente atípica devido à pandemia, que balanço faz da mesma?
Rafael Botelho -
De forma concreta não tive época. Fiz apenas dois Ralis, um fevereiro que venci, em São Miguel, e o Rali Terras D´Aboboreira. Foram dois ralis muito bons, que serviram para fazer os primeiros quilómetros com o meu carro novo, o Skoda Fabia R5, e começar a trabalhar com a The Racing Factory para os nossos objectivos futuros. De certa forma, não posso classificar como um mau ano, porque consegui dar um passo em frente na minha carreira e cumpri o sonho de fazer uma prova em Portugal continental a contar para o CPR. No entanto, em conjunto com o Rui Raimundo, a minha equipa e os meus patrocinadores tínhamos outros objectivos que esperamos poder começar a trabalhar para eles em 2021.

RaliFórum - No seu ponto de vista, foi feito tudo aquilo que era possível para ter um campeonato digno e competitivo?
Rafael Botelho -
Foi um ano muito complicado e o paradigma dos ralis dos Açores é muito específico. Nós somos uma terra pequena em que não é fácil cumprir todos os desejos e ambições dos locais. Acredito que ao longo do ano houve condições claras para se realizaram provas, mas não foi possível haver um rali quando se estavam a cancelar outros eventos. Houve a intenção clara por partes das entidades reguladoras e competentes de não se criar exceções que poderiam desencadear para alguns desagrados na sociedade. Para além disso, o poder económico dos clubes organizadores não é o mais forte, dependendo em 75% para a realização do Campeonato , das Fábricas de Tabaco que não viram com bons olhos os planos apresentados para aquilo que poderia vir a ser o Campeonato dos Açores.

RaliFórum - No que respeita á época de 2021, no momento em que fazemos a entrevista não são ainda conhecidos os calendários, como pensa que deveriam ser estruturados os mesmos? Quantas provas pensa que deveriam ter?
Rafael Botelho -
O campeonato dos Açores são sete provas, quatro em asfalto, três em terra, em cinco ilhas diferentes (São Miguel, Santa Maria, Terceira, Faial e Pico). Num ano normal sou a favor da realização dessas sete provas, sendo que mais provas não é suportável, não só pelos custos, mas também pelas questões logísticas referentes aos transportes marítimos entre as ilhas. No entanto, face ao agravamento da situação epidemiológica e ao consequente tempo que obrigará para alguma estabilização e garantia de segurança não acredito que seja possível colocar todas essas provas na estrada. Assim sendo, acho que só a meio do segundo trimestre do ano será possível haver alguma retoma na saúde e a nível financeiro. Nessa altura deve-se iniciar o campeonato, mas face ao grau de fragilidade da economia acho que só se deveriam realizar 5 provas, uma por ilha, das anteriormente citadas.  

RaliFórum - Em termos pessoais, que objetivos tem para a época que agora se inicia?
Rafael Botelho -
Após quase um ano parado espero que a realização das provas seja concreta e regular, pois só assim será possível realizar um bom trabalho, ganhar ritmo e automatismo que só se conseguem com a rotina de provas e testes. Será a minha primeira época com uma viatura de tração integral pelo que há muito a aprender. De uma forma clara, quero fazer o campeonato dos Açores, ir evoluindo prova após prova, e, assim, conhecer melhor o carro e perceber onde tenho de trabalhar para evoluir. Para além disso, se houver enquadramento financeiro e de calendarização gostava de voltar ao continente para uma prova do CPR.

 

Foto: Facebook Rafael Botelho

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